2007

Taisa Helena Pascale Palhares

Galeria Virgílio

Elemento fundamental de sua pintura, a cor no trabalho de Renata Tassinari sempre teve uma fisicalidade marcante. Ela tem corpo e é matéria que se revela dos modos os mais diversos: na aglutinação de diferentes materiais, na exploração de superfícies rugosas, nas pinceladas marcadas, na sobreposição de cores, na colocação lado a lado de determinados tons e, mais recentemente, pela estruturação do trabalho em módulos. Ela nunca foi enfocada apenas como acontecimento visual. Na verdade, suas pinturas se movimentam nesse espaço, tão rico para arte moderna, entre o objeto e a pintura, ou seja, evidenciam o caráter objetual desta, seu fazer enquanto coisa que em si não carrega nenhuma distinção a priori dos outros objetos do mundo.

A seu modo, elas respondem a sempre problemática indagação: o que significa dizer que algo é um objeto de arte?

Nestes novos trabalhos, a regularidade e exatidão de formas e cores remetem, juntamente com uma certa padronização e repetição de estruturas básicas, ao universo dos objetos manufaturados, de eletrodomésticos a peças de design. Contribui para essa aproximação a utilização de placas de diversos padrões de mdf e molduras acrílicas que são explorados enquanto tais, ou seja, estão presentes nas pinturas lado a lado da tinta a óleo como elementos pictóricos fundamentais. As cores vêm fortes, em contraste. Determinados tons de rosa, verde, vermelho, amarelo e azul, cuja presença marcante se dá por aquilo que elas têm de ordinário e característico, unem-se às tonalidades artificiais da madeira industrializada ou são filtradas pela superfície acrílica.

Por outro lado, ao utilizar esses materiais também como elementos estruturais, as pinturas tangenciam o espaço arquitetônico. Em trabalhos comoQuadrado amarelo (2007)e Quadrado rosa (2006) a linha formada pela moldura de acrílico branca ao mesmo tempo contém e expande o espaço, do mesmo modo que o jogo entre opacidade e reflexão da luz na superfície sugere um vai-e-vem no qual os limites físicos das pinturas são constantemente recolocados. As bordas da moldura de acrílico ora são pintadas por fora ora na parte exterior, sugerindo uma dialética sutil entre a exterioridade e a interioridade das pinturas. Na série de Fachadas, a caixa de acrílico funciona simultaneamente como um meio de contenção e ampliação, produzindo mediante o deslocamento espacial uma arritmia inesperada. Ao mesmo tempo, a transparência do material propõe uma integração da superfície da parede no jogo visual desencadeado pelo trabalho, procedimento inédito na produção da artista.

A meu ver, o interesse na fisicalidade enfática dessas pinturas, que não escondem como e do que são feitas, reside naquilo em que se apresentam como atuais, pertencentes a um espaço e tempo que é deste mundo e não de um além. Sua força vive nessa espécie de dupla instantaneidade: reconhecemos prontamente aquilo que vemos, seja pela familiaridade com os materiais que afinal fazem parte do mundo cotidiano, seja pela proximidade espacial das pinturas na medida em que estas se projetam para fora, ao encontro do espaço do espectador.