2003

José Bento Ferreira

Centro Universitário Maria Antonia

Ao longo de sua trajetória, a pintura de Renata Tassinari tem se depurado de certa identificação das cores, marca de um caráter artesanal remetido à arte de Volpi.

Certa indefinição que permitia que as formas se reunissem num espaço mais permeável às diferenças. Renata agora intensifica essas diferenças e apresenta uma pintura fundada pelo contraste, seja entre cores, ainda que atravessadas por uma sombra cinza, ou entre texturas, ora marcadas pelas pinceladas firmes que extraem, até mesmo da cor negra, um brilho luminoso, ora despojadas de acidentes, apaziguando as mais vivas cores numa superfície fosca.

A área cinza em que o olhar repousa confere materialidade às outras cores, como observou Taísa Palhares, que escreveu recentemente sobre a artista. Não chega a constituir um fundo do qual formas surgissem, age como o silêncio na melodia, ou pausas de uma fala, acentuando mais as relações entre as formas do que as formas em si mesmas. E uma vez que toda expressão se dá por meio de relações, a pintura interpela o mundo ao torná-lo, por um instante, desdobramento dela.

Além das grandes telas, Renata expõe desenhos nos quais pinta sobre o acrílico que emoldura papéis em branco. Quase objetos, rompem os limites do quadro e transpõem as relações nele obtidas para o mundo ao redor, indicando o rumo tomado pela pintura. A delicada interioridade a que Renata Tassinari renunciou dá lugar, então, a relações formais capazes de arrebatar o espectador e seu mundo numa espacialidade própria.