2015

Cor e estrutura – pinturas, desenhos e colagens de Renata Tassinari - Taisa Palhares

Instituto Tomie Ohtake

“Cor e estrutura – pinturas, desenhos e colagens de Renata Tassinari” reúne cerca de cinquenta trabalhos datados de meados dos anos 1980 até 2013, apresentando pela primeira vez ao grande público uma visão geral da produção de Renata Tassinari. Sem constituir-se exatamente em uma retrospectiva, a mostra busca sobretudo evidenciar o caráter original de sua pesquisa, assumindo como fio condutor a importância que o procedimento da colagem adquiriu na formação de sua poética.

 Formada em Artes Plásticas pela Faap, Renata inicia sua produção com pinturas que mesclam elementos figurativos à gestualidade característica da pintura da geração 80.Tais elementos vão paulatinamente desaparecendo, dando lugar a uma pesquisa marcante de cor que logo se transforma na marca de seus trabalhos. No entanto, cor e matéria nunca estão dissociadas, pois desde o início Renata busca repensá-las a partir da relação com o suporte, agregando à superfície da tela elementos díspares como lixas, madeiras, borracha, papelão, chumbo etc., ou utilizando diferentes técnicas como encáustica e esmalte sintético, juntamente com a tinta a óleo.

 Ao mesmo tempo em que os materiais e suas texturas servem como potencializadores da superfície colorida, essas ações de assemblage remetem a uma questão central para pintura contemporânea: se por um lado essas telas revivem, por exemplo, a força das cores matissianas, por outro, em sua relação com as coisas ordinárias do mundo, os trabalhos desenvolvidos entre meados dos anos 1980 e 1990 nos fazem pensar nas pinturas de um dos pioneiros da arte pop, o norte-americano Jasper Johns, que em seus quadros de alvos e bandeiras nos colocava diante desse mesmo dilema entre a “pureza” abstrata da cor e das formas geométricas e a heterogeneidade da vida contemporânea. 

A meu ver, é exatamente a tensão entre a autonomia da cor e a pintura como objeto artificial e manufaturado que será explorada de maneira surpreendente por Renata ao longo dos anos, concretizando-se na década de 2000 com uma série de trabalhos bastante originais nos quais a artista transforma a própria moldura de acrílico e madeiras padronizadas em MDF em elementos da composição. 

Entre essa produção recente e os primeiros trabalhos há uma redução significativa da composição em séries de pinturas a óleo, nas quais artista revela seu domínio sobre as cores e sua capacidade de espacialização. Sem representar um desvio, ao contrário, esses quadros de aparência construtiva na verdade descontroem, com sutileza, a totalidade da superfície pictórica, impelindo à observação as marcas de suas divisões, que muitas vezes correspondem à separação física do próprio suporte, já que algumas pinturas são formadas pela montagem de duas telas.

Não deixa de ser instigante ver muitas dessas cores presentes posteriormente nos quadros em acrílico, óleo e madeira, a sugerir um encontro improvável entre a linha orgânica de Lygia Clark, as cores sensoriais de Matisse e a aparência padronizada dos trabalhos dos minimalistas norte-americanos. Na medida em que a arte pode ser sempre entendida como uma “promessa de felicidade”, o que o trabalho de Renata Tassinari parece vislumbrar é esse momento em que a pintura, sem deixar de lado seu estatuto contemporâneo de “mais uma coisa entre outras”, é capaz de surpreender e se diferenciar.